Coluna Jorge Barros: ASSIM É SE LHE PARECE

O grande dramaturgo italiano Luigi Pirandello (1867-1936), ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1934, fez questão de marcar e aprofundar um teatro puramente de ideias e conflitos; um teatro colocando homem no centro dos mais densos conflitos do aprofundamento do eu e existencialismo. E, dentro deste contexto, escreveu uma de suas famosas peças: Assim é se lhe parece, título desta coluna em homenagem a esse grande dramaturgo. Nela, Pirandello expõe a obsessão pela pluralidade do ser e relativização dos fatos e a fracassada luta do homem para conseguir alcançar a verdade; esta, jamais podendo ser absoluta. Absoluta só a verdade de Deus. Ficou claro? Entre os humanos, toda verdade é relativa, e nunca deixará de ser. O mundo gira em torno de si mesmo, e cada criatura gira em torno de si mesma e das outras criaturas; apesar de muitos acreditarem que, qualquer pessoa deste planeta, está separada de outra por seis graus. Seis graus de separação. Cada homem carrega consigo uma pequena porção (porção esta diferente de todas as outras) do universo para guiar seus próprios passos e sua história, que um dia ficará nos anais da própria história da humanidade. Portanto, não se deve exigir que duas pessoas pensem de forma uniforme, coesa, consensual. Cada raciocínio é fruto de um turbilhão de visões que, instantaneamente, clareiam a mente do indivíduo no momento em que ele pensa e age. O que é verdade para um indivíduo, não necessariamente é verdade para o outro; o que é mentira para uma pessoa, talvez não seja mentira para outra, ou para outras. Ao homem foi dado o inalienável direito de pensar, refletir e decidir uma ou até mil vezes, se assim ela desejar, mas sem esquecer a ética em suas relações interpessoais, sociais e no exercício da liberdade de agir. Impor conceitos, filosofia de vida, projeto político, práticas sociais rejeitáveis e normas de conduta autoritárias sempre geram crises e abismo entre os homens. A verdade do homem tem sempre várias faces; a verdade do homem nunca foi, não é e nunca será absoluta. Talvez aí resida toda a crise social, ideológica, política e religiosa entre os homens. Ao homem foi dado o direito de pensar, que ele pense; ao homem foi dado o direito de agir, que ela aja; ao homem foi dado o direito de escolher sua verdade, que ele a escolha, mas tentando errar o menos possível. Dando um salto na linha do tempo deste texto, já estamos em tempos de política e conquista do poder. Verdades e mentiras serão perfeitamente manipuladas. Já estamos em tempos de campanha para prefeito e vereador, e muitas verdades e mentiras serão mantidas como regras básicas para a vitória. Daqui até o dia 15 de novembro, muitas “falsas verdades “ serão publicadas pela maioria esmagadora dos candidatos, na tentativa de tornarem as suas verdades irrefutáveis; daqui até o dia 15 de novembro, muitas “verdadeiras falsidades” serão publicadas também pela maioria esmagadora dos candidatos a prefeito e a vereador, na tentativa de tornarem suas mentiras únicas e inquestionáveis. Propostas descaradas para seduzirem o eleitor incauto e continuadamente dependente de migalhas oferecidas em troca do voto, não faltarão. Ao eleitor, a tarefa de eleger sua “verdade verdadeira”; ao leitor, a tarefa de eleger sua “falsa falsidade”. Veremos isso ainda no dia 15, lá por volta da meia-noite.

Professor Jorge Barros