Coluna Jorge Barros: Hoje, incitar a rebelião das massas é preciso, calar - se não é preciso (parte II)

Para os políticos, em que momento o povo torna-se perigoso? No momento em que o povo toma consciência de todos (ou quase todos) os fatos que constroem e organizam a sua história. Para comprovar a veracidade dessa afirmação, cita - se o exemplo da grande campanha, iniciada em 1983, por eleições livres e diretas para presidente da República. A foto desta coluna registra um grande comício em São Paulo, em frente à Catedral da Sé, em 1984, dia 25 de janeiro, dia do aniversário da cidade. Eu estive lá. Os generais golpistas e toda a rede de intrigas que reinava em torno dos mesmos não queriam abandonar o poder. Estavam lá instalados há 20 anos e governavam com todos os instrumentos do cruel autoritarismo: AI-5, governadores e senadores biônicos (os escolhidos pela cúpula militar para representarem as unidades federativas), cassação de direitos políticos, repressão aos movimentos de protestos, proibição de greves em todos os setores, torturas, prisões, censura, aposentadorias compulsórias etc. Mas, a partir de 1983, nos quatro quadrantes do Brasil, milhões de vozes ecoaram. O grito era um só: PARA OS QUARTEIS OS MILITARES, DIRETAS PARA PRESIDENTE JÁ! Obviamente os militares, mesmo sob forte pressão das vozes e dos movimentos das ruas, não entregaram o poder tão facilmente. Fizeram de tudo para que a proposta de Emenda Constitucional do deputado Dante de Oliveira, Emenda n. 5 de dois de março de 1983, que propunha o retorno à democracia para a escolha do presidente do Brasil, fosse rejeitada no congresso. Conseguiram. Conseguiram porque a maioria dos deputados votantes era comprometida com as velhas oligarquias e todos os vícios que emporcalhavam (e ainda emporcalham) a política brasileira. Mas não fomos derrotados por completo. O presidente que assumiria em 1985 não seria mais um militar, e sim um cível eleito pelo Colégio Eleitoral da Câmara dos Deputados. A chapa Tancredo Neves - José Sarney foi a vencedora. E, finalmente, em 1989, os brasileiros foram às urnas para eleger o primeiro presidente civil após 25 anos de afastamento desse pleno exercício democrático. Em 1983 alguém começou a incitar a rebelião das massas para a luta em defesa de eleições livres e diretas para presidente. As massas se rebelaram, sem derramamento de sangue, e hoje, livremente, elegem o seu representante máximo (presidente). Pela enésima vez, Bertolt Brecht: O homem, meu general, é muito útil. Ele sabe voar, sabe enganar, sabe matar, mas tem um grande defeito, sabe pensar.
Professor Jorge Barros.