Coluna Jorge Barros: Oito décadas do clássico No tempo das diligências – Um faroeste para nenhum crítico de cinema contestar

Um certo crítico de cinema, em um lampejo de inteligência, assim se expressou categoricamente: O cinema não seria o mesmo sem gênero western (faroeste); o gênero western ,por sua vez, não seria o mesmo sem o inteligente diretor John Ford; o diretor John Ford, sem sombra de dúvida, não seria o mesmo sem o filme No tempo das diligências, um faroeste clássico; o filme No tempo das diligências, por seu turno, jamais seria o mesmo sem o maior caubói de todos os tempos, o ator John Wayne. Corretíssimo. Produzido em 1939, pelos estúdios da Metro Goldwyn Mayer (MGM), com o título original em inglês Stagecoaach, diligência, este excelente trabalho do diretor John Ford, além de resgatar o gênero que já estava em declínio, consolidou, de uma vez por todas, a tese de que um filme bem dirigido e bem produzido e com um elenco afinado é o que importa. E não o gênero: romance, policial, aventura, noir, drama, comédia, terror etc. Com um enredo não muito difícil de entendimento, esse brilhante faroeste colocou em uma mesma diligência (carruagem) tipos americanos bem característicos da época, e que perfeitamente identificavam homens na luta pela conquista de territórios nos Estados Unidos, no período de pós depressão. Na diligência, uma mulher tímida, uma prostituta, um banqueiro, um jogador, um alcoólatra, um vendedor de uísque e um fugitivo, todos viajando por um imenso deserto sob ataque de peles-vermelhas (apaches). Esse filme, obedecendo as regras trágicas de tempo, lugar e ação, exibe as suas principais personagens - dentro de uma diligência (carruagem) - através de diálogos de densidade psicológica, de narrativas de conflitos de identidades, bem como de discussões envolvendo questões morais, sociais, políticas e éticas. E, como se John Ford não estivesse satisfeito com os embates entre suas personagens em busca de seu destino, enfrentando o medo, a fúria, a cavalaria e as flechas envenenadas dos apaches( índios ), sob a liderança do guerreiro pele - vermelha Gerônimo, resolveu ser um doce perverso e visionário, ao brindar o público do mundo inteiro com uma paisagem do Velho-Oeste composta de rochedos uniformes, cactos gigantes, belíssimas estradas empoeiradas e um deserto que se perde no horizonte; tudo isso compondo uma das mais belas fotografias em preto e branco do cinema de Hollywood. No tempo das diligências concorreu aos Oscar de melhor filme, direção, fotografia, direção de arte, edição, música e de melhor ator de suporte (coadjuvante), para Thomas Mitchell; vencendo nesta última categoria. Essa brilhante produção de John Ford perdeu o Oscar de melhor filme para o chamado clássico dos clássicos ... E o vento levou, produzido no mesmo ano. John Wayne, apesar de ser considerado o ator que mais renda de bilheteria deu à sétima arte, só foi premiado com um Oscar já no final de carreira, em 1969, pelo filme Bravura Indômita. Pena que o cinema pós – moderno não produz mais genialidades iguais a essa obra prima de John Ford; limitando-se, ultimamente, a produzir, com raras exceções, filmes no formato de digital somente para divertir o espectador e deixá-lo sair da sala de projeção sem nenhuma reflexão sobre a vida e sobre homem como um ser social. No tempo das diligências pode ser encontrado em DVD, Blu-ray e em canais de TV por cabo. No YouTube também você o encontra, não obstante a qualidade ser discutível. Dicas de outros faroestes não tão clássicos como no tempo..., mas clássicos: 1. Matar ou morrer/1952; 2. Os brutos também amam/ 1953; 3. Sete homens e uma destino/ 1960; O homem que matou o facínora/1963 e os imperdoáveis/1992.
Boa diversão. Professor Jorge Barros