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DNA de preso por mortes de mulheres em Ilhéus não é encontrado nos corpos das vítimas

15/9 DNA de preso por mortes de mulheres em Ilhéus não é encontrado nos corpos das vítimas

Embora a polícia tenha apresentado um autor confesso, o assassinato brutal de três mulheres enquanto caminhavam na Praia dos Milionários, na cidade turística de Ilhéus, ainda é um quebra-cabeça difícil de montar. Uma das peças que não se encaixa é o fato de o DNA de Thierry Lima da Silva, de 23 anos, preso dias depois, não ter sido encontrado nos corpos das vítimas, tampouco nas três facas analisadas como prováveis armas do crime. O caso completa nesta segunda-feira (15) um mês e a reportagem listou outras incongruências nessa investigação ainda cercada de mistérios

Por conta da complexidade do caso, as amostras de DNA são analisadas na sede do Departamento de Polícia Técnica (DPT), em Salvador. Após o primeiro descartar que as vítimas foram estupradas e apontar ausência do material genético de quatro pessoas (três homens e uma mulher) tanto nas vítimas quanto no local das mortes, um novo exame — realizado depois do dia 25 de agosto, quando Thierry foi preso — teve o resultado divulgado na última quinta-feira (11). O laudo confirmou a mesma conclusão em relação a ele e a outros três suspeitos submetidos à análise.

“Não foi encontrado DNA dele (Thierry) e nem dos demais nos objetos recolhidos do local. Em crimes com arma branca, geralmente fica sangue misturado do autor, cortes comuns ao usar faca em briga. Se ele é réu, confesso, deve ter dito onde enterrou a faca. Como não acharam ainda?”, questiona um dos peritos criminais do DPT ouvido pela reportagem, com base nas informações divulgadas pela polícia. Segundo a fonte, o resultado foi também negativo para as digitais dos acusados nas três facas apresentadas pela Polícia Civil (PC) no inquérito. No dia 12 deste mês, novas amostras foram encaminhadas ao DPT.

As vítimas assassinadas no dia 15 de agosto são: Alexsandra Oliveira Suzart, de 45 anos, Maria Helena do Nascimento Bastos, de 41, e Mariana Bastos da Silva, de 20. Alexsandra e Maria Helena eram amigas, vizinhas e atuavam como educadoras na rede municipal. Mariana era filha de Maria Helena e cursava Engenharia Ambiental. As três moravam em condomínios próximos à praia e passeavam com um cachorro, que foi encontrado amarrado em uma árvore há poucos metros dos corpos.

A dinâmica do crime é apontada como uma das fragilidades da investigação. Segundo a PC, Thierry, que confessou o triplo homicídio durante audiência de custódia, relatou ter agido sozinho. De acordo com a versão, a intenção era cometer um assalto, e uma das mulheres teria sido abordada com uma faca. As outras duas, que tentaram intervir, também acabaram esfaqueadas. “É pouco plausível que um homem só, armado apenas com uma faca, consiga matar três mulheres sem que nenhuma conseguisse fugir, pedir socorro ou mesmo feri-lo seriamente”, ponta o perito.

Ele diz em seguida que, “em situações reais de luta corporal, a tendência é haver defesa ativa (arranhões ou roupas rasgadas)”. “Não foram encontradas nas unhas das vítimas material genético típico de quem tentou se defender”, complementa. Dias após a localização dos corpos, imagens de câmeras de segurança mostraram três pessoas circulando perto de onde as vítimas foram deixadas. A polícia não informou se elas eram suspeitas.

Mulheres assassinadas em praia de ilhéus

Ainda durante audiência de custódia, Thierry disse que roubou R$ 30 das vítimas. Para o perito, a versão de latrocínio é uma “motivação pouco convincente”, pois “nada indica subtração de bens relevantes, tampouco sinais de luta por objeto roubado”. “Latrocínio normalmente envolve ação rápida e fuga, não um massacre prolongado e brutal de três vítimas. Sem roubo efetivo, sem violência sexual e sem motivação clara, o crime fica sem lógica”, declara.

A reportagem ouviu também outro perito criminal do DPT. Este pontuou que a polícia sustenta a culpa de Thierry principalmente na confissão. “Ele é dependente químico, possivelmente em situação de vulnerabilidade, logo, confissões podem ser obtidas sob pressão. Sem provas materiais sólidas, confissão não se sustenta sozinha, conforme artigo 155 do Código de Processo Penal”, argumenta a fonte.

Além da ausência da arma do crime, peça-chave para análise de impressões digitais, DNA e a dinâmica do crime, o perito pontuou que o caso teve repercussão nacional, “gerando forte pressão da opinião pública”. “Em casos assim, a polícia pode apontar rapidamente um ‘culpado’ para acalmar a sociedade, mesmo que os elementos probatórios sejam frágeis”, declara.

Família

A reportagem conseguiu falar com um parente de Alexsandra. Questionado se acredita na versão de que Thierry tenha cometido o crime, e ainda por cima sozinho, e que as três mulheres foram vítimas de latrocínio, o familiar respondeu: “É difícil dizer alguma coisa nesse momento. Foi algo inesperado. Jamais imaginamos passar por isso. Fomos chamados para uma conversa com a polícia. Só depois disso para poder falar alguma coisa”, disse ele, na última quinta-feira (11).

O parente disse que todos que eram próximos às vítimas estão arrasados. “Todos os dias, a gente se pergunta o porquê de tanta crueldade, porque elas não tinham motivo algum. Eram evangélicas, professoras, cuidavam de autistas. Tudo ainda é um mistério”, declara. a reportagem tentou falar com o marido de Maria Helena, pai de Mariana, mas não teve sucesso.

Posicionamento

Procurada, a Polícia Civil enviou uma nota. No documento, “esclarece que aguarda a conclusão e apresentação de todos os laudos periciais de análises genéticas sobre as investigações das mortes ocorridas na praia de Ilhéus, de três mulheres, cujos corpos foram localizados no dia 16 de agosto”.

“Um homem preso em flagrante por tráfico de drogas e que teve um mandado de prisão preventiva cumprido pelo homicídio do companheiro Lucas dos Santos Nascimento, continua sendo investigado pelas mortes de Maria Helena do Nascimento Bastos, Mariana Bastos da Silva e Alexsandra Oliveira Suzart, uma vez que ainda não existem elementos comprobatórios suficientes e conclusivos para afastá-lo da suspeita”, diz o texto.

A PC disse ainda que outras pessoas também figuram como investigadas no âmbito do Inquérito Policial. “Para não comprometer as apurações em curso, as demais diligências investigativas seguem em sigilo”, finaliza a nota.

Correio24horas

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